3 de janeiro de 2010

Essas profundas nulidades...


"Não se encontram muitos homens, cuja profunda nulidade é um segredo para a maior parte das pessoas que os conhecem? Uma posição elevada, um nascimento ilustre, atribuiçoes importantes, certo verniz de polidez, grande reserva no procedimento ou o prestígio da fortuna são para eles como guardas que impedem os críticos de penetrar na sua existência íntima. Essa gente parece-se com os reis, cuja verdadeira estrutura, caráter e costumes nunca podem ser bem conhecidos, nem justamente apreciados, porque são vistos de muito longe ou de muito perto. Essas personagens de merecimento fictício interrogam em vez de falar, possuem a arte de dispor os outros em cena, fazê-los mover com destreza, cada um segundo as suas paixões ou os seus interesses, e zombam assim de homens que lhe são realmente superiores, fazem deles uns fantoches e julgam-nos pequenos porque os rebaixam até suas pessoas. Obtêm então o triunfo natural de um pensamento mesquinho, porém fixo, sobre a mobilidade dos grandes pensamentos. De sorte que, para apreciar esses cérebros ocos, e pesar-lhe o valor negativo, o observador deve possuir um espírito mais sutil do que superior, mas paciência do que alcance de vista, mais finura e tato do que elevação e grandeza de idéias. Não obstante, por maior habilidade que empreguem esses usurpadores em defender os seus pontos fracos, é-lhes bem difícil enganar as esposas, as mães, os filhos ou os amigos da casa. Esses, porém, guardam quase sempre o segredo sobre um assunto que, de algum modo, toca à honra comum; e muitas vezes até os ajudam a imporem-se à sociedade."
Balzac, p. 41/42.