7 de julho de 2024

A Velhice

 

Os idosos que não constituem uma força econômica não têm os meios para fazer valer seus direitos: o interesse dos exploradores é romper a solidariedade entre os trabalhadores e os improdutivos de maneira que estes últimos não sejam defendidos por ninguém. Os mitos e os clichês postos em circulação pelo pensamento burguês se esforçam para mostrar no idoso um outro. “É com adolescentes que duram um bom número de anos que a vida faz os idosos”, observa Proust; eles mantêm as qualidades e os defeitos do homem que continuam sendo. Isso, a opinião quer ignorar. Se os idosos manifestam os mesmos desejos, os mesmos sentimentos, as mesmas reivindicações que os jovens, eles escandalizam; em sua idade, o amor, o ciúme parecem odiosos ou ridículos, a sexualidade repugnante, a violência desdenhosa. Eles devem dar o exemplo de todas as virtudes. Antes de tudo, exige-se deles serenidade; afirma-se que eles a possuem, o que autoriza a desconsiderar sua infelicidade. A imagem sublimada que lhes é proposta de si mesmos é a do Sábio aureolado de cabelos brancos, rico em experiência e venerável, que domina de muito alto a condição humana; se se desviam dessa imagem, então caem abaixo: a imagem que se opõe à primeira é a do velho louco que delira e devaneia e de quem os filhos zombam. De qualquer forma, por sua virtude ou por sua abjeção, eles se situam fora da humanidade. Pode-se, então, sem escrúpulo, negar-lhes aquele mínimo que é julgado necessário para levar uma vida digna.

BEAUVOIR, Simone de, 1908-1986. A velhice. Tradução Maria Helena Franco. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018.

4 de julho de 2024

Quando a gente erra o foco...

Era para ser a flor, mas deu a folha. Em meio à paisagem que incluia céus e montanhas, muito verde, muito azul, casas e até uma igrejinha com torre e tudo, eu me permiti olhar para uma pequena flor branca, tirante a lírio, só que em ponto menor. Caprichei no foco, um pouco trêmula, ignorei os chamados para a beleza da vista e fiz a foto. Saiu errada. Primeiro plano prevalente, com a folha carcomida. O pequeno lírio atrás. Desfocado. Não deu tempo de tentar outra. Era preciso voltar ao trabalho, às coisas mais sérias da vida. Injustificável perder tempo com pequenas flores, futilidades, inutilidades. Ainda mais quando a gente perde o foco e não salva nem a foto. Mas... será mesmo que não?

3 de julho de 2024

Julho

 


Julho. Ano passando, águas, ventos, dias, realidades. Metade se foi, segundo diz a minha agenda. Mas eu, que sempre duvidei de tudo, não estou assim tão certa.