29 de julho de 2024

Frio que volta

 E o que é quem tem? Se é inverno, que seja.

16 de julho de 2024

Pensando bem

Daí as letras saem por si mesmas. Mancham o papel virtual que é branco como brancos são os meus pensamentos de agora, e como branca a tolha da mesa. Há dias em que os ódios sossegam e até as simpatias cedem à expectativa despertada pelo cheiro que sai de dentro do meu forno. Oliva, essa divindade escorreita que dramatiza todos os sabores. Já ouvi dizer que com azeite tudo desce. A nota suave de um único dente de alho que, embebido na essência da oliva, deita seu suco sobre uma folha de louro. Fragmentos da pimenta vermelha dão vida às fatias de bacon seguramente presas à superfície gorda do pernil. Fogo baixo inicialmente vai despertando sabores e perfumes insinuantes. Inspiração. Sossego. Por mais simples que sejam os ingredientes, há neles uma nobreza que nossa performance pode conferir a qualquer alimento. O que for bem feito, será sempre supremo remédio. Não creio que a chamada pedra filosofal, que renova as energias extraviadas, esteja perdida. Não está. Todo chumbo pode ser transmutado no ouro da alma harmonizada consigo e com o mundo.  Não há lugar para sentimentos rasteiros, nem para mastigar o fel das almas penadas, sempre ocupadas com seus mesquinhos desejos. Nada disso. Apenas a festa que tem lugar na minha pequena cozinha alquímica, onde tudo se tranforma no alimento que revova corpo e alma. De fato, apetite é tudo. E cozinhar é mágico. 

 

15 de julho de 2024

Flores


 Dezessete dias no vaso. Parece-me um recorde. Lindas margaridas que alegram a sala, os dias, a vida enfim.

11 de julho de 2024

A Nascente

 

– Regras? – perguntou Roark. – Estas são as minhas regras: o que pode ser feito com uma substância nunca deve ser feito com outra. Não existem dois materiais idênticos. Não existem dois locais iguais na Terra. Não existem dois prédios com o mesmo propósito. O propósito, o local e o material determinam a forma. Nada pode ser lógico ou belo a menos que seja feito a partir de uma ideia central, e é esta que define cada detalhe. Um prédio é algo vivo, como um homem. Sua integridade é seguir sua própria verdade, seu único tema, e servir seu próprio e único propósito. Assim como um homem não toma emprestados pedaços de seu corpo, um prédio não toma emprestadas partes de sua alma. Seu criador lhe dá a alma e também cada parede, janela e escadaria para expressá-la. RAND, Ayn, 1905-1982. A nascente. Tradução de Andrea Holcberg. São Paulo: Arqueiro, 2013, p. 28

O parágrafo reproduz uma fala do personagem Howard Roark, diante do reitor da escola de Arquitetura da qual for expulso, não obstante as melhores notas e aproveitamento. O livro? “The Fountainhead” (no Brasil, “A Nascente”), da polêmica Ayn Rand, filósofa e romancista russo americana. Publicado em 1943, o livro conta a história de Howard Roark, um personagem complexo, arquiteto apaixonado pela criação, a ponto de desafiar todas as convenções chanceladas pela tradição. Egoísta, individualista, determinado e corajoso, Roark assume suas posições, não obstante as consequências que daí resultam. O livro traz temas polêmicos como o individualismo contraposto ao coletivismo, o egoísmo ao altruísmo.

 

7 de julho de 2024

A Velhice

 

Os idosos que não constituem uma força econômica não têm os meios para fazer valer seus direitos: o interesse dos exploradores é romper a solidariedade entre os trabalhadores e os improdutivos de maneira que estes últimos não sejam defendidos por ninguém. Os mitos e os clichês postos em circulação pelo pensamento burguês se esforçam para mostrar no idoso um outro. “É com adolescentes que duram um bom número de anos que a vida faz os idosos”, observa Proust; eles mantêm as qualidades e os defeitos do homem que continuam sendo. Isso, a opinião quer ignorar. Se os idosos manifestam os mesmos desejos, os mesmos sentimentos, as mesmas reivindicações que os jovens, eles escandalizam; em sua idade, o amor, o ciúme parecem odiosos ou ridículos, a sexualidade repugnante, a violência desdenhosa. Eles devem dar o exemplo de todas as virtudes. Antes de tudo, exige-se deles serenidade; afirma-se que eles a possuem, o que autoriza a desconsiderar sua infelicidade. A imagem sublimada que lhes é proposta de si mesmos é a do Sábio aureolado de cabelos brancos, rico em experiência e venerável, que domina de muito alto a condição humana; se se desviam dessa imagem, então caem abaixo: a imagem que se opõe à primeira é a do velho louco que delira e devaneia e de quem os filhos zombam. De qualquer forma, por sua virtude ou por sua abjeção, eles se situam fora da humanidade. Pode-se, então, sem escrúpulo, negar-lhes aquele mínimo que é julgado necessário para levar uma vida digna.

BEAUVOIR, Simone de, 1908-1986. A velhice. Tradução Maria Helena Franco. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2018.

4 de julho de 2024

Quando a gente erra o foco...

Era para ser a flor, mas deu a folha. Em meio à paisagem que incluia céus e montanhas, muito verde, muito azul, casas e até uma igrejinha com torre e tudo, eu me permiti olhar para uma pequena flor branca, tirante a lírio, só que em ponto menor. Caprichei no foco, um pouco trêmula, ignorei os chamados para a beleza da vista e fiz a foto. Saiu errada. Primeiro plano prevalente, com a folha carcomida. O pequeno lírio atrás. Desfocado. Não deu tempo de tentar outra. Era preciso voltar ao trabalho, às coisas mais sérias da vida. Injustificável perder tempo com pequenas flores, futilidades, inutilidades. Ainda mais quando a gente perde o foco e não salva nem a foto. Mas... será mesmo que não?

3 de julho de 2024

Julho

 


Julho. Ano passando, águas, ventos, dias, realidades. Metade se foi, segundo diz a minha agenda. Mas eu, que sempre duvidei de tudo, não estou assim tão certa.