30 de julho de 2022

Apenas eu

 Sabor de tempo. Inexplicável, mas inconfundível. Fortuna que quanto mais se conta mais aumenta. Riqueza das riquezas és tu, tempo, tecido da vida, por vezes tão sutil que se pensa perdido; outras, tão denso; e outras ainda, como agora, com sabor de sábado à noite, embalado pelo silêncio e acariciado pela solidão. O escuro e as vozes distantes mapeiam as sombras. Aromas cruzados confundem o olfato que se apura pela imaginação: penso em café, e no estar em casa. Penso nessa imensidão que me pede para estar aqui, agora mesmo, atenta às palavras que aparecem sozinhas, enfileiradas, fazendo sentido que não decifro, mas que saberei ler logo ali, quando voltar a ser apenas eu.

22 de julho de 2022

Então

 Daí olho para esse branco luminoso e penso: es-cre-ver, ver, antever. Palavra que se explica por si mesma, e cuja pertinência só se descobre no outro, o leitor, o ator.


20 de julho de 2022

A Ponte


 

Festa


Por um dia, uma noite. Fogueira e bandeiras. Quentão, pipoca, inverno.

E havia festa.

Sem você, no entanto. 

13 de julho de 2022

Esperar


Dias de julho. Entre expectativas e desapontamentos. Penso em Saturno: ele me ensinou a esperar, porque é dele a Eternidade.


5 de julho de 2022

Inutilidade

A intermitência do cursor é convidativa. Gosto tanto de ver essa fileira de letras espaçadas. São sonoras, harmônicas, fazem todo sentido. Mas dizer o quê? Eu me pergunto desde quando silenciei. Talvez com tua morte, e por conta dela. Mas no final já não me lias, e eu sabia estar à deriva. Hoje não apenas eu estou à deriva, mas também o que eu supostamente penso saber.  Tudo é duvidoso, a dúvida inclusive. Há uma inutilidade decretada que mata o pensamento. Vivemos o tempo dos slogans, das frases feitas, dos rótulos apostos sobre o vazio que se arroga às vezes de conteúdo. A palavra se inutiliza. E o que penso se limita à discrição da minha própria subjetividade.