24 de outubro de 2020

A Rosa


 A ROSA

A rosa,
a imperecível rosa que não canto,
a que é peso e fragrância,
a do jardim escuro na noite alta,
a de qualquer jardim e qualquer tarde,
a rosa que ressurge da tênue
cinza pela arte da alquimia,
a rosa dos persas e de Ariosto,
a que sempre está só,
a que sempre é a rosa das rosas,
a jovem flor platônica,
a ardente e cega rosa que não canto, 
a rosa inalcançável.
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A propósito da rosa de Ariosto, provável relação com Orlando Furioso, canto I, 42-43: La verginella é simile alla rosa, ch'in bel giardin su la nativa spina mentre sola e sicura si riposa... Uma rosa com espinhos que a mantêm só e segura.

Insisto em dizer que me parece provável. 

 Porque Borges é complexo, e nos coloca quase sempre diante de um real que mostra relações intrínsecas e paradoxais: a rosa é uma e é todas, imperecível, porque ressurge alquimicamente das cinzas, e inacessível, porque o autor não a canta, ainda que seja dele o poema que a descreve.