"Dificilmente o teria reconhecido. Aparentava pelo menos 45 anos e, num segundo, reconheci os sinais da vida provinciana, que engorda, brutaliza e envelhece. Com um rápido pensamento, mais rápido do que meu gesto ao estender-lhe a mão, conheci sua existência, sua maneira de ser, seu gênero de espírito e suas teorias sobre o mundo. Adivinhei as refeições demoradas que lhe tinham arredondado o ventre, as sonolências depois do almoço, o torpor de uma digestão pesada regada a conhaque e os vagos olhares atirados sobre os doentes, com pensamento na galinha assada girando no espeto. Suas conversas sobre a cozinha, sobre o conhaque, a aguardente e o vinho, sobre a maneira de fazer certos pratos e de bem ligar certos molhos me foram reveladas apenas ao olhar para as suas faces vermelhas e empastadas, a grossura de seus lábios, o brilho morno dos seus olhos."
MAUPASSANT, Guy de. Obras de Guy de Maupassant. O vestal da Senhora Husson. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1953, XI v., p. 12.