“Um amor naturalmente chama por outro. E não há coração nem tão surdo, que se é chamado não ouça, nem tão mudo, que se ouviu não responda. Até as penhas dos desertos respondem às vozes, e o mesmo eco, que parece que é repulsa, é correspondência. A correspondência não é outra coisa que a reflexão do mesmo amor, que torna dobrado para donde veio. E assim como não há mármore nem bronze tão duro que, ferido do raio do sol, não responda ao mesmo sol com a reflexão do seu raio, assim não há coração tão de mármore na dureza, e tão de bronze na resistência, que, prevenido no amor, o não redobre e corresponda com outro.”
VIEIRA, Antônio. Textos
literários em meio eletrônico Sermão da Primeira Sexta-Feira da Quaresma (1644).
Texto Fonte: Editoração eletrônica: Verônica Ribas Cúrcio. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.
O Sermão da Primeira Sexta-Feira da Quaresma, pregado por Padre Antônio Vieira em 1644 na Capela Real de Lisboa, é uma das suas obras mais emblemáticas. Proferido durante a Quaresma, período de penitência e reflexão cristã, o sermão tem como objetivo despertar a consciência para a fé, o arrependimento e a preparação espiritual para a Páscoa. Com uma estrutura densa e estilo marcante, Vieira entrelaça teologia, retórica e exemplos vívidos para abordar temas como pecado, morte, fé e salvação. A obra é um marco da oratória sacra e da literatura portuguesa, com uma mensagem atemporal que continua a inspirar espiritualidade e introspecção.