14 de março de 2021

O que vem por aí


 Tirando o fim de semana para ouvir o que os malucos têm a dizer. Cansei dos normais. Horas e horas só escutando verdadeiros loucos de atar. 

12 de março de 2021

Perplexa

 Soube ontem de uma moça que dorme com a chapinha embaixo do travesseiro. Desde que se casou, ela acorda sempre muito cedo, desliza silenciosamente para fora de cama e, sem fazer barulho, se arruma. Depois volta  ao quarto, deita-se, e faz de conta que dorme. Quando o marido acorda, ela finge que desperta "maravilhosa". Jamais aparece diante dele com o cabelo arrepiado. Foi minha cabeleireira que me contou essa história. A moça é  mais uma dependente da chapinha, disse minha cabeleireira, deixando bem claro que há muitas assim. Fiquei (e continuo) perplexa, até meio inspirada para uma crônica, talvez. Saber que mulheres sejam tão inseguras, a ponto de temerem se mostrar como são, e justamente com quem decidiram dividir a intimidade. 

11 de março de 2021

Por ora


 Restaurando a bagunça na sala de estar. Afinal, de estar o quê? De estar por estar, de estar por ali, de estar à espera, de estar a ficar, a pensar, a viver, a conjugar enfim tantos verbos. Trocar o estar por hora, que é hora de trabalho, pelo estar por ora, justo nesta manhã em que decreto feriado para tratar de dar mais cores ao meu tempo, mais cores que palavras, ultimamente, tão vãs.



10 de março de 2021

Contudo

Pensando em voltar às cores. Ultimamente as palavras têm sido tão vãs... De uma inutilidade à toda prova. Redundantes como um pleonasmo. Barulhentas, mas ocas.

8 de março de 2021

A propósito

 Ismos à parte, divertido lembrar, e justamente hoje, que a parte espúria era o nome dado à genitália feminina. Para Plutarco (50-120 d.C.) a palavra spurius tinha origem sabina. Posteriormente, tribunais medievais passaram a chamar assim também crianças ilegítimas, nascidas de mãe nobre e de pai plebeu.

PEREIRA JÚNIOR, Luiz Costa. Com a língua de fora. A obscenidade por trás de palavras insuspeitas e a história inocente de termos cabeludos. São Paulo: Angra, 2002. (p. 57-58).



7 de março de 2021

Só queria que soubesses

 


Cercada de coisas silenciosas. Até meus livros, hoje, mal sussurram seus títulos. Devo prolongar minha estadia nos 1500. Relendo vidas: Lutero, Erasmo, Savonarola... Maquiavel. Sem pretensões didáticas! Nada de métodos. Apenas leitura e o colocar-se na pele dos que viveram seu tempo. Busco detalhes. Amores. Palavras. Marco as páginas, sublinho o texto. Quero entender a Reforma. Quero mais, na verdade: quero imaginar homens e circunstâncias. Homens talvez superiores às suas circunstâncias: pelo caráter, pelas convicções, pela vontade. Depois me lembro da tua ausência. Não tenho mais com quem compartilhar tantos tesouros. Para quem faria sentido detalhes tão ínfimos? Descubro cartas. Dizeres... Descubro que Erasmo, ao saber do casamento de Lutero com Catarina de Bora, comentou que a Reforma, depois de haver começado como uma tragédia, terminava, como toda comédia, com um casamento. Saboreio a frase e sua refinada ironia. Só queria que soubesses.