Mas nem me lembro mais desse instante impensado. Quando foi? Quando terá sido? Não consulto o arquivo. Pouco importa a objetividade que a datação confere aos fatos. Importa eu. O azul e o rosa, contraste que não desafina. E a sinaleira que lá se chama farol, mas que assim nem dá pra ver se eu passava ou se passei.
Como tudo que vale muito, feito por nada.
Ah. Quer saber? Desconfia sempre das intenções. Em fotografia, elas são sempre traiçoeiras. Em fotografia, elas são sempre muito artificiais. Depois não vá ficar sem jeito, quanto te encontrares transformado em peça de presépio, olhando o nada, pacificamente bovino, quietinho, obediente, ainda que ruminando contrariedades. Não. Deixa assim mesmo. Por acaso, a objetiva fazendo o que quiser. O que mais importa é que este é um retrato meu. Porque eu estava lá, um pouco azul, um pouco rosa, um pouco desatenta. Sem saber até agora se o sinal estava ou não fechado pra mim. Mas, pra falar a verdade, tanto faz o sinal.