18 de novembro de 2018

O Barão de Lavos

“A plenitude da vida, a arrogância genital, a evolução orgânica ao máximo, própria dos 32 anos, mantinham no barão ainda fortes e dominantes as tendências naturais da virilidade. Ele tinha por enquanto junto do efebo os mesmos apetites de penetração e de posse que o homem sente de ordinário para com a mulher. Todavia, em raros momentos de vertigem, ao contato da sua carne com aquela outra virilidade impetuosa e fresca, percorria-lhe os músculos, fugidio, breve, um movimento efeminado; faiscava-lhe no espírito uma pregustação de prazer que tivesse por base a passividade, o abandono; entrava de suporar-lhe da vontade uma solicitação em escorço de não se entregar, de ser possuído, de ser femeado, em suma. O que era, a um tempo, corolário do seu temperamento, é sinal patognômico do finalisar de uma raça inútil, do agonizar de uma família que vinha assim desfazer-se, podre das últimas aberrações e das últimas baixezas, na pessoa do seu representante derradeiro. Era como o início da formação de um edema de natureza moral, purulento, mole, crescendo traiçoeiramente sem dor e sem pruridos, abeberando-se farto e rápido na degradativa essência do doente, com numa esterqueira os cogumelos.”
BOTELHO, Abel. O Barão de Lavos, 1891, p. 94
Fonte: https://goo.gl/HkNWqE
Obra disponível em: https://goo.gl/x7mzbR

E a propósito, uma nota literária publicada em 1898 pelo Jornal do Recife, periódico que circulou de 1858 a 1938. A nota serve para exemplificar o tipo de repercussão desse gênero literário no Brasil:

Jornal do Recife, Pernambuco, 23 de junho de 1898, Ano XLI, n. 137, p. 2.