Eu escrevi este livro, como de hábito, para todos e para
ninguém. Para aqueles, sobretudo, que não conhecerei jamais. Uma nostalgia aí
se exprime: é uma nostalgia do futuro. O tempo de interpretação do mito,
infelizmente, é também aquele do desaparecimento dos deuses. Em uma época
neoprimitiva pelo próprio fato de sua atualidade, em uma época profundamente
vazia a par de sua plenitude, em uma época onde tudo é simulacro e experiência forclose, onde tudo é espetáculo, mas
onde não há mais olhos para ver, em uma sociedade onde surgem novas formas de
totalitarismo e de exclusão, sociedade sempre sussurrante de ódios recozidos, sussurrante
do inautêntico e do não essencial, em uma sociedade onde morre a beleza,
sociedade do fim da historia, sociedade do último homem onde tudo se afunda no
Ocidente ― no Oeste absoluto, transatlântico, de uma história que foi grande ―
este livro quer lembrar a possibilidade de uma paisagem, a possibilidade de uma
representação espiritual consonante com a beleza de um quadro, de um rosto, de
um acordo com a fé de um povo de um povo sustentado pela esperança e pela
vontade de um viver um novo começo.
Está aí, compreenda-se, um livro de desejos, de lembranças,
de dúvidas e de paixões.
Alain de Benoist
BENOIST, Alain. Comment peut-on être païen?. Paris: Éditions Albin Michel, 1981, p. 12-13. Tradução minha.