Que imensa saudade eu sinto de ti, meu Alex. Saudade imensa, que só aumenta. Dia após dia a tua ausência entristece o mundo cada vez mais. Eras assim, tudo pra mim, prosa e poesia, afeto refinado como o ouro mais puro, que tua morte transmutou nesse chumbo pesado e triste, imenso Saturno que suprimiu o tempo e que me deixou aqui, tão desesperadamente só.
27 de fevereiro de 2018
18 de fevereiro de 2018
Meu Alex, minha saudade
Por que vocês nos
deixam?
Meu Alex. Sinto uma
falta brutal dele. Olhar para aquela carinha linda, e ficar pensando se
ele soubesse como era amado.
Mas saber é coisa
dos homens.
Queria poder lidar
melhor com isso.
Aprender com esse
tipo de emoção, nessa intensidade.
Queria conseguir
elaborar alguma coisa, cada parcela dessa dor, para que eu mesma possa
compreendê-la e, por aí, limitá-la. Conhecer a dor para, quem sabe, aceitá-la,
entrando numa espécie de acordo com ela. Inútil pretensão humana.
Tento capitalizar
as vantagens de a casa não cheirar mais a xixi e a cocô. Tento. Mas sinto até
falta do cheiro. A alegria de sentir que finalmente tinha cocô. Tão lindo! E
ele tentava enrolar tudo no jornal e sujava aquela carinha chata tão
expressiva.
Estou livre agora
do cocô e livre do mijo. Livre de limpar o chão três vezes ao dia no
mínimo. Livre de carregar sacolas cheias de lixo fedorento e de usar
aqueles produtos que disfarçam o clima reinante numa casa que cheira a jaula.
Agora posso
recolocar carpetes.
Não há mais
pelos pela casa nem nas minhas roupas pretas.
Não há mais o
receio de encontrar a minha cama mijada justamente no dia da troca dos lençóis.
Não há mais os
potinhos d'água, nem os de comida, nem há mais os horários rígidos da
medicação. O Gardenal, o remédio da pressão, os diuréticos, o soro fisiológico
a toda hora para limpar os olhos, a água micelar para limpar as grandes orelhas
que na velhice se enchiam de secreção diariamente, o complemento alimentar. O
cardápio. A comidinha caprichada que eu mesma fazia e que punha em potinhos,
enchendo a geladeira.
Estou livre dessa
trabalheira toda. Posso enfim viajar. Posso ir ao cinema ali no shopping.
Voltar para casa, e não mais abrir a porta com o meu coração aos pulos de medo
que o dele houvesse cedido à doença e parado de bater.
Não preciso mais
entrar gritando o nome dele, mesmo sabendo que já estava surdo e que não ia me
atender. Verificar se havia comido. Se havia bebido água. Encontrá-lo enfim
dormindo num cantinho, descabelado e sonolento, despertando ao ver-me, para
logo se dar conta de que, sim, a Mana estava em casa outra vez. Que felizmente,
mais uma vez, ele não morrera durante a minha ausência.
E daí que estou
mais livre agora?
Era bom servi-lo.
Cuidar dele. Cumprir aquela rotina atarefada, tensa, mas ao lado dele, que
parecia melhorar, tanto eu insistia nesses cuidados extremos. Eu acreditava que
poderia curá-lo. Como assim? No fundo, acho que nunca aceitei o diagnóstico de
cardiopatia grave.
Tento reagir. Tento
perceber que posso sair e voltar na hora que eu quiser. Que posso trabalhar com
mais tranquilidade. Que não mais me sujeito ao relógio e à rigidez dos horários
prescritos para a medicação.
As vantagens. Pois
é. Só que essas ''vantagens'' não capitalizam nada.
Estou me
sentindo verdadeiramente presa agora e não livre como tento argumentar
comigo mesma. Talvez porque livremente escolhi amar e quis me dedicar a ele,
dando de mim tudo o que podia.
Esse movimento de
prodigalizar um afeto sem medidas é arriscado entre os homens. Porque nossa
consciência das coisas associa umas às outras, classifica, compara. Nos vemos
amando e assim somos vistos pelo humano amado. Há talvez uma conduta que se
estrutura sobre certa reciprocidade. Um comprometimento explícito nessa
humanidade que contamina a emoção, tentando dar-lhe um feitio racional,
traçando-lhe uma finalidade ou mesmo uma metafísica repleta de idealidades.
Com bicho não. A
gente ama porque ama e pronto. Ama-se com simplicidade nesse território onde a
palavra é desnecessária e verdadeiramente supérflua.
Ama-se louca e
irresponsavelmente.
Ama-se com um pouco
de vergonha de se exagerar tanto. De permitir-se tanto.
Esse amor não é sem
consequência. Ele nos faz sensíveis ao mais simples olhar, que nos diz tudo, a
um abanar de rabinho, saudação tão sincera, a um resmungo que seja, queixa que
nos constrange mais que qualquer poder constituído.
Por tudo isso, essa
dor dói tanto.
Porque não há ritos
para vivenciar esse luto.
O mundo não se
detém diante dessas despedidas.
A vida continua.
Deixei o frágil
corpinho sem vida do meu Alex sobre a mesa de aço inoxidável da emergência.
Muito de mim foi e continua indo com ele nessa morte que, apesar de esperada,
nem por isso me dói menos.
Essa dor e essa
saudade são sem proporção.
Essa tristeza é sem
fim.
Como sem fim eram
aqueles transbordamentos de amor, por quase nada, que encheram os meus dias, ao
longo desses últimos treze anos. Um olhar dele. Aquela carinha linda. Senti-lo
por perto. Ouvir o barulho das patinhas, os passos já vagarosos, quando ia e
vinha pela casa. Acordar pela manhã e descobri-lo ao meu lado, sonolento ainda,
cheio de preguiça. A cada um desses instantes e eu me enchia de amor e dele
transbordava, como agora, a cada lembrança, transbordo de tristeza.
Uma tristeza sem
fim, choro infantil que soluça, que só se acalma para retornar em seguida mais
forte ainda.
Meu Alex, minha
saudade.
11 de fevereiro de 2018
O Republicano (e como) Decreto 119-A
Proclamação da República, Benedito Calixto, 1893. |
O histórico Decreto n.
119-A, de 7 de janeiro de 1890. Histórico, sim, porque foi através que Deodoro da Fonseca, então tornado Chefe do Governo
Provisório da Republica dos Estados Unidos do Brasil, pelo
Exercito e Armada, e em nome da Nação, proibiu tanto a
autoridade federal quanto os estados federados de virem a estabelecer qualquer
religião. Também lhes era vedado discriminar os habitantes do país por motivo
de crenças ou de opiniões filosóficas ou religiosas. Paralelamente, a todas as
confissões religiosas era assegurado regerem-se segundo princípios norteadores
de sua fé, bem como não serem contrariadas no que tange aos seus atos
particulares ou públicos, liberdade essa que não abrangia apenas os indivíduos
em seus atos individuais, mas também as igrejas, associações e institutos aos
quais lhes interessasse agremiar-se. Era, pois, garantido a todos o “pleno direito de se
constituírem e viverem coletivamente, segundo o seu credo e a sua disciplina,
sem intervenção do poder publico” (art. 3º).
Muita coisa foi preservada, todavia, em termos de um verdadeiro acordo
entre República e Igreja de que o citado decreto dá contas. Assim, pelo art.
5º, às igrejas e às confissões de ordem religiosa reconhecia-se personalidade
jurídica, de sorte que poderiam adquirir e administrar bens na forma da lei, e
“sob os limites postos pelas leis concernentes à propriedade de mão-morta,
mantendo-se a cada uma o domínio de seus haveres atuais, bem como dos seus edifícios
de culto”. Tais limites eram concernentes à Igreja, entidade perpétua e
detentora de um patrimônio que, — ao contrário do que ocorre com a herança
objeto de sucessões —, não mudava de mãos, daí o termo mão-morta. Do mesmo
modo, ainda que extinto o padroado (art. 4°), o governo continuaria a prover a
côngrua, ou seja, por força do art. 6°, vai prover a “sustentação dos atuais
serventuários do culto católico e subvencionará por ano as cadeiras dos
seminários”. Além disso, era prerrogativa de cada estado a manutenção dos
“futuros ministros desse ou de outro culto, sem contravenção do disposto nos
artigos antecedentes”.
2 de fevereiro de 2018
Reclames de Antigamente
ECO,
Umberto. O cemitério de Praga.
Tradução de Joana Angélica d’ Ávila Melo. Rio de Janeiro/São Paulo: Record,
2011, pg. 51
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