31 de dezembro de 2017

Saudade do Gordo

Ele era desengonçado. Também não cheirava muito bem, mesmo quando, contrariado, tomava banho no tanque. Guloso, pensava em comida o tempo todo, assim como pensava em sair e passear. Gostava tanto de andar de automóvel que, se via um desconhecido qualquer abrir a porta do carro... entrava e sentava no banco da frente, esperando pelo passeio. Uma briga tirá-lo de dentro, desculpar-se. Enfim, era o Gordo. Amigo, carinhoso, incapaz de fazer o mal aos tais cerumanos.
Tanto tempo, Gordo, tanto tempo. Convivemos pouco, é verdade. Mas ele se lembrava de mim, festejava-me, chorava e uivava escandalosamente. Era uma festa. Gordo, que saudade de você! De seu amor desinteressado e puro. Gordo, nunca mais.

30 de dezembro de 2017

O Homem sem Qualidades

"Ele estava postado atrás de uma janela, e através do filtro verde-pálido do ar do jardim contemplava a rua pardacenta; há dez minutos contava com o relógio os automóveis, carruagens, bondes e os rostos de transeuntes embaciados pela distância, que cobriam a retina com um rápido redemoinho; avaliava as velocidades, os ângulos, as forças vivas das massas que passavam, que atraíam o olhar com a rapidez de um raio, prendiam-no, soltavam-no e, durante um tempo para o qual não existe medida, forçavam a atenção a resistir-lhes, desprender-se, saltar para o que viesse em seguida e jogar-se atrás dele; em suma, depois de calcular mentalmente por um momento, ele meteu o relógio no bolso, rindo, e constatou que estivera fazendo uma tolice."
MUSIL, Robert. O homem sem qualidades. Trad. Lya Luft e Carlos Abbenseth. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989, p. 11.

3 de dezembro de 2017

Gratuidade


Mexo nas coisas passadas, passo os olhos pelas imagens, acho um fragmento, instante tomado ao chão, aonde teimava em nascer uma planta, que insistia em florescer só para ser pisoteada com indiferença pela nossa pressa.

7 de setembro de 2017

Caderno de Arte


Genny Bleggi nasceu em Santana do Livramento, Rio Grande do Sul, no dia 30 de maio de 1926.  Hoje, aos 91 anos, continua explorando o mundo da arte, das formas, das cores, da vida, enfim. Com imensa sensibilidade, Genny coloca sua marca pessoal em tudo o que faz. Espanta-nos a fidelidade a um estilo inconfundivelmente seu. 
Explorando cores fortes distribuídas sobre um espaço que ela maneja com facilidade e independência, Genny renova as formas dos objetos que desenha. Nessa coleção, vão as imagens de um caderno desenhado com lápis de cor, canetas hidrográficas e giz de cera.
Acesso em: Caderno de Arte

14 de agosto de 2017

Quem se lembra

Em que memória restaria perdido o arquivo do que fui um dia, quando acreditava que era, que seria, que poderia? 
Mas seria eu mesma?
Estranhamento. Mais nada.

13 de agosto de 2017

A Quarentona

Carta de uma leitora à Revista "A CIGARRA", 1915.

6 de agosto de 2017

2 de agosto de 2017

Discretamente

Não. Não é a propósito de Cinderela.

24 de maio de 2017

A propósito da curiosidade

“A curiosidade é um vício que foi sendo, sucessivamente, estigmatizado pelo cristianismo, pela filosofia e mesmo por certa concepção da ciência. Curiosidade, futilidade. Contudo, a palavra me agrada, ela me sugere uma outra coisa: ela evoca a ‘inquietação’, o cuidado que temos com o que existe e poderia existir, um sentido agudo do real, mas que jamais se imobiliza diante dele, uma perspicácia por achar estranho e singular o que nos rodeia, certa obstinação por abrir mão do que é familiar e por olhar as mesmas coisas de outra maneira, um ardor por apreender o que se passa e o que passa, uma desenvoltura em relação às hierarquias tradicionais entre o importante e o essencial.”

Michel Foucault
Fonte: BN

24 de abril de 2017

Carbone

Segundo Lombroso, um bandido italiano

16 de abril de 2017

Hakim Bey

"L’émergence du capitalisme produit un étrange effet sur l’amour romanesque. Je ne puis mieux l’exprimer qu’avec une image absurde: c’est comme si l’Etre Aimé était devenu le produit parfait, toujours désiré, toujours payé mais jamais vraiment consommé. L’auto-négation de l’amour romanesque s’harmonise parfaitement avec l’auto-négation du capitalisme. Loin de se contenter de moralité ou de chasteté, le capital exige la pénurie, pénurie de la production et du plaisir érotique. La religion, en interdisant la sexualité, a conféré une aura de prestige à l’abstinence. Le capitalisme occulte la sexualité et l’infuse de désespoir."
L' Amour-obsession . Hakim Bey

http://www.anarchisme-ontologique.net/

25 de fevereiro de 2017

Dos meus ácaros...

Para quem quiser ler e até baixar, O MANUAL DO FISIONOMISTA está no meu Scribd.

Em 2004

Minha biblioteca, relativamente à sua área, não é muito pobre. Tenho Freud, quase completo. Wilhelm Stekel, cinco volumes e obras esparsas. Gosto muito dele! Tenho Kretschmer, A Histeria. Mira y López... os velhos quatro gigantes e seu tratado. Tenho Jung, Os tipos psicológico, um tal de Chaves da Caracterologia de Gaillat, muito interessante. Ah! Tenho um outro que pouca gente conhece! Lembra do caso Schreber? O juiz alemão sobre o qual Freud escreveu um volume inteiro? O maluco que escreveu um diário? Pois é. O diário dele foi publicado em português. A edição é nova, de 1995! As perícias da época foram incluídas. É muito, mas muito interessante mesmo. Saiu com o nome Memórias de um doente dos nervos. Ed. Paz e Terra, Rio de Janeiro. Na verdade, há muito mais. Mantegazza, o psicólogo, por exemplo, quase tudo. Livros bem velhinhos, cheios de mofo. Bem como eu gosto. É que leio de tudo. Sou onívora. Não escapa nem bula de remédio!


Reencontro

O acaso. O inexorável. 
O inesperado encontro com Rute, a quem eu não via desde idos de 2000, e com a tela que pintei há quase 20 anos, um estudo de frutas & panos.

16 de janeiro de 2017

É que

Simplesmente às vezes não se tem mesmo nada a dizer