12 de setembro de 2013

A Estrada da Vida

Esta é A Estrada da Vida de Hieronymus Bosch, um dos artistas mais geniais e complexos que já viveram, seja por seu talento, seja por sua atemporalidade. Em que pese haver nascido em 1450 e morrido em 1516, seu trabalho não perde atualidade, ainda que este artista tenha sido um típico homem medieval, preocupado com a tentação, com o pecado e com os prazeres. Bosch realizou o fantástico, materializou a fantasia e tornou concreta a imaginação. Neste quadro, em particular, encontramos um andarilho que faz lembrar o Arcano Zero do Tarô. O homem a percorrer a estrada da vida. Ele é, enquanto peregrino, sem identidade, pois não tem raízes no lugar onde está (não sabemos se sabe quem é) e parece sem destino (não se sabe se ele sabe de onde vem, e ele também parece pouco importar-se com para onde vai). A vida o conduz, e ele presentifica a passagem, o momento, o instante, o agora. Um cão magro e feroz o persegue, lembrando as adversidades, e ele procura afastá-lo com o bastão que carrega, olhando para trás. Leva consigo, na bagagem que traz às costas, tudo o que possui: uma espécie de cesto onde se vê uma colher de pau presa pelo lado de fora. Sua roupa está rasgada, e podemos ver seu joelho esquerdo. Ele traz ainda o que pode ser uma arma branca, uma faca, cujo cabo se deixa ver por entre as pregas do casaco. Em seu caminho há uma ponte, mas ele olha para trás e parece desatento à pedra rachada e à forquilha que sustenta uma espécie de frágil corrimão destinado a dar mais segurança a quem atravessar a estreita ponte de pedra. Ele passa por um grupo de homens que se ocupam de uma execução, amarrando alguém a uma árvore, diante de várias armas espalhadas pelo chão. Há um casal ao fundo e mais além ainda vê-se um homem sentado junto ao tronco de uma árvore. A presença da morte é simbolizada pelos ossos e pelos abutres que podemos ver em primeiro plano. As feições do caminhante, se as fixarmos atentamente, revelam um homem vivido e maduro. Há rugas em sua testa, e seu olhar lembra o de um homem cansado e ameaçado, aflito. A postura denota esse receio, e a posição das pernas não mostra firmeza.
Quem se interessar em observar ainda mais detalhes desta obra em grande resolução pode abrir a imagem neste link. Há muito mais a descobrir aí. Observei uma espécie de fechadura exatamente no meio do painel, onde as duas metades se encontram. É um detalhe curioso. Além disso, em outra obra de Bosch, O Peregrino, encontramos o mesmo personagem.

4 de setembro de 2013

O outro lado


É que essa coisa de fotografar vicia um pouco. E inventar moda, como essa coisa de ver o que acontece com os reflexos, dá o que fazer e o que pensar depois, olhando para as imagens. A delicia dessas indefinições está, para mim, no fato de elas serem tão consoladoras! Ainda mais hoje, quando esse mundo está cheio de gente que sabe quem é, que sabe o que quer, que sabe o que faz! Então, olha... Eu brinco com essas imagens que, afinal, são fotografias, pedaços da mais pura realidade, fidedigno desenho de luz (foto + grafia). Eu brinco com essas coisas indefinidas e indefiníveis, como as janelas tortas de um prédio refletido pela fachada de outro prédio com pedaços de uma árvore ainda e um canto de céu.