A ironia, seguramente, é moral demais para ser verdadeiramente artista, bem como demasiado cruel para ser verdadeiramente cômica.
JANKÉLÉVITCH, V, L'ironie. Paris: Alcan, 1936, p. 1.
Encantador! Ele chega a analisar a relação da ironia com as alegorias, porque a ironia, de certa forma, é alegórica. É uma espécie de consciência. Ele vai à literatura. Fala da ironia de si, com Nietzsch. Vai além, e constrói um capítulo inteiro sobre as vítimas da ironia, aonde ele mesmo ironiza a figura do acrobata que erra o pulo. Fala da ilusão que, para ele, é como o bom senso: um pouco de lucidez a distancia, mas muita, conduz a ela. Livramo-nos dos nossos medos e, com eles, não se irão nossas esperanças? A ironia é um anestésico. O risco é ficar como o cardiopata a quem todas as fortes emoções são proibidas, especialmente aquelas que tornam a vida apaixonante.
Maior barato este livrinho que comprei hoje e que não me deixa trabalhar! Deve ter ácaros, mas cheira a melhoral infantil, como os livros franceses em geral.
Que engraçado! Eu costumo dizer às vezes que não simpatizo muito com ironia. Não que eu não seja irônica. Não que eu não faça uso dela até mais frequentemente do que gostaria, quando não me dão outra saída. Até aqui nas Traças, aliás, já fiz muitas postagens que podem ser consideradas irônicas.
Mas nunca fui muito com ironias, não.
Agora acho este livrinho que me mostra o óbvio de modo divertido, só que, ironicamente falando, sem mergulhar na superficialidade.
Ah, sobre JANKÉLÉVITCH já há muita coisa no Google. Filho de russos, criado em Paris, agnóstico, músico, filósofo. Acho que era bonitão. No mínimo. E se não era, fica sendo.