26 de fevereiro de 2010

O Inimigo e o Mal

"A noção de inimigo da humanidade é efetivamente uma contradição em termos, dado que, por definição, a humanidade não pode ter inimigos entre os humanos. É por causa disso que as guerras em nome da humanidade resultam indubitavelmente na negação da qualidade de ser humano ao inimigo: bater-se em nome da humanidade leva necessariamente a por os seus inimigos fora da humanidade. Ora, contra aquele que foi posto fora da humanidade, tudo se torna permitido. Desde logo, o inimigo desta não é mais um simples adversário do momento, que poderia de igual forma transformar-se amanhã em aliado, mas uma figura do Mal, um «inimigo do gênero humano», um criminoso a punir, podendo ser empregados todos os meios que permitam subjugá-lo. (...) Combater em nome da humanidade significa, de fato, colocarmo-nos em posição de decretar quem é humano e quem não o é. Tal é o paradoxo: todo o discurso que pretende apagar as fronteiras entre os homens para estender a noção de «nós» à totalidade da espécie humana resulta na recriação, no próprio seio da humanidade, de uma linha de fractura e de exclusão mais radical do que as outras. «Com efeito, não é senão com o homem entendido como humanidade absoluta que surge o inverso desse mesmo conceito, o seu novo inimigo específico, o homem inumano (Unmensch)» escreve Schmitt. A guerra em nome da moral é, pois, o exemplo acabado da guerra mais inumana. O universalismo abstrato faz dos adversários inimigos absolutos e transforma as guerras «humanitárias» em guerras de extermínio."

Alain de Benoist in «Guerra Justa, Terrorismo, Estado de Urgência e Nomos da Terra - A actualidade de Carl Schmitt», Antagonista (2009), citado em http://infoinconformista.blogspot.com/