Quantos cemitérios tive de percorrer, e em que densa floresta de cruzes tive de embrenhar-me para procurar todos os meus mortos!
Mas lá não encontrei senão os seus nomes, escritos na madeira ou na pedra, e muitos deles haviam sido apagados pelo hálito dos anos.
Procurei os ossos, procurei as cinzas, e não os pude ver, porque estavam sepultados nas profundezas da terra.
E, enquanto os andava procurando entre as cruzes e os túmulos de mármore, os meus olhos não liam senão mentiras, não viam senão vaidades estultas e mesquinhas que, mais tenazes que a vida, duram mais que ela e que a memória dos homens.
O canto do homem era extinto, os sorrisos da juventude tinham se desvanecido, todas as alegrias da alma humana se haviam dissipado, e entre as sepulturas esquecidas e as cruzes tombadas na erva basta, tão somente sobrevivia, tenaz como o ferro, a vaidade humana, e a mentira gritava em falsete em todo aquele mundo de mortos.
E fugi do cemitério, e não voltei mais ali, porque os meus mortos não estavam lá, e eu os havia procurado onde eles se não encontravam.
Paulo Mantegazza
Extraído de O Livro das Melancolias