6 de novembro de 2023

A Janela

 Sei que janelas abrem para fora. Dão a ver paisagens.

Mas também sei que janelas abrem para dentro, E dão a ver amados e amantes, verdades e mentiras, dias e noites. Saudades.

2 de setembro de 2023

Flagrante


Privilégio ser apenas eu a ver tanta coisa que ninguém mais percebe. Reflexos da cidade. A fotografia tomada bem naquele instante. Eu alheia à importância da causa em discussão. Alheia e alienada, olhando pela janela as luzes, o rio, os reflexos. E tudo ali fora gritava. Agitava-se na indiferença e na perplexidade do que existe por existir. Simplesmente. Porque tudo é gratuito. Inclusive eu e... quem mais?

17 de julho de 2023

Sedução

 Esses espaços em branco são tão sedutores. Postagens, diz. Eu sei. Sei o que é e para que serve. Mas quando aciono o "nova postagem" e aparece esta caixa em branco, sempre é tentador. Mesmo em dias assim, como esta segunda-feira fria e preguiçosa, quando só tenho a dizer isso ou pouco mais. 


15 de julho de 2023

10 de julho de 2023

Especulando

Sobre os misteriosos acessos do Oriente.

Vai saber...

8 de junho de 2023

REVISTA VIDA BRASIL

 Jean Baudrillard (1929-2007)

 

Embora filha do século XX, nascida depois da II Guerra, nunca deixei de ter certo ar não diria conservador, mas meio Belle Époque, naquilo que o século XIX tinha de irreverente e de vanguardista. Contudo, vivi e tenho vivido demais e, ao alcançar o século XXI, fui desafiada a interpretar estes nossos tempos pós-modernos, pensando esse presente que se consuma e se consome em breves instantes. Em meio a esse desafio, batalha cotidiana que me acelera o coração e a mente, encontrei um homem que me trouxe, mais que palavras, um verdadeiro turbilhão de ideias.

Apaixonei-me por Baudrillard quando estudava o destino dos descartes: coisas das quais nos desfazemos, porque sua utilidade se perdeu. Especular sobre o tema levou-me à leitura de Le Système des objets. Parei tudo o que vinha pesquisando. Revisei e revivi conceitos. Mudei meu olhar sobre o mundo. O livro é uma das primeiras obras de Baudrillard, publicada em 1968. Foi sua tese de doutorado em Sociologia, defendida em 1966 na Universidade de Paris X, Nanterre. Só a banca já causa arrepios a quem quer que já tenha respirado a atmosfera acadêmica: Henri Lefebvre, Roland Barthes e Pierre Bourdieu.

“O Sistema dos Objetos” me fez entender a relação entre cultura e consumo e, mais ainda, me deu condições de aferir até que ponto essa relação não poderia comprometer minha própria identidade. Porque os objetos não são coisas inertes, mas ingredientes que atuam ativamente na construção da vida social, expressando ideias e valores. Os espelhos, por exemplo, se relacionam ao espaço assim como os relógios, símbolos da permanência, se relacionam ao tempo. São equivalentes, nesse sentido, atuantes. Quanto mais espelhos, — diz ele —, mais gloriosa é a intimidade, mas também mais circunscrita a si mesma.

Baudrillard requer que o leitor vá além da leitura. Percorro seus textos e, pelo caminho, ele vai me inoculando suas experiências. Em certos momentos, sinto o terrível tédio que o mundo lhe causa; em outros, me entusiasmo ao perceber como ele abstrai de qualquer coisa as mais brilhantes ideias. É minha imaginação que ele consegue provocar literalmente em over doses seguidas. Para mim, descobri-lo foi uma experiência visceral, tão próxima da arte quanto deve estar um filósofo. Logo ele, que disse que jamais pretendeu a verdade, porque a respeitava demais para colocá-la em perigo. Nada daquele clássico distanciamento do objeto, nada de textos impessoais.

Desde então, adotei Baudrillard como quem adota um santo. Só que, em lugar de comprar uma imagem e orar diante dela para obter um milagre ou uma graça, é diante de seus livros que me deixo encantar, seduzir e apaixonar. Se não encontro ali a graça ou o milagre de uma intervenção divina, é no tênue reflexo de sua humanidade já extinta que encontro as fórmulas que me ajudam a compreender esse tempo presente que, afinal, eu ainda tenho de viver, não sem algum esforço, é verdade. Refém dessa hiper-realidade midiática, acredito que outros, assim como eu, sintam às vezes necessidade de certo isolamento, em busca de um refúgio capaz de nos devolver a simples realidade, diante de tantos desejos novos a saciar, de tantas necessidades novas a suprir, de tantas coisas novas a experimentar. Em um extremo, avatares imbecilizantes e seus milhões de seguidores ditando comportamentos e caminhos rumo ao sucesso; de outro, zumbis que funcionam no modo automático, incapazes de uma reflexão, incapazes de abrigar uma só ideia própria que seja; no meio, a massa, irredutível, disputada aos nacos para integrar as mais diversas facções: moda, política, cultura, tudo é produto, tudo é consumo.

A obra de Baudrillard é notável e inclui “Simulacros e Simulação”, livro que inspirou o filme Matrix, que muitos acharam sensacional. Mas é “A Transparência do Mal: Ensaios sobre Fenômenos Extremos” (La transparence du mal: Essai sur les phénomènes extrêmes,1990) a obra que mais me impressiona atualmente. Entre outros temas polêmicos, Baudrillard observa que não somos mais capazes de crer, de amar, de querer, porque cremos no que o outro crê, amamos o que o outro ama e queremos o que o outro quer. Trata-se de uma derrogação geral da vontade, que eleva o querer, o poder e o saber a uma segunda instância.

E por que o mal? Porque o mal, na sociedade contemporânea, se faz cada vez mais visível e transparente, em vez de oculto e velado como costumava ser. Essa transparência tem como causa a tecnologia midiática, que faz com que tudo possa parecer banal e gratuito. Portanto, não se pode estranhar que o terrorismo, a violência urbana, a guerra e as políticas que promovem sua emergência tenham se tornado um fenômeno global. Como resistir a tamanho poder e força, quando sequer há um bem que costumava se opor ao mal? A que formas de subversão e resistência se poderia recorrer quando nossa pertinência a esse presente contínuo reafirma nossa condição de reféns de uma cultura de massa que não podemos afrontar a não ser pela via de uma contracultura também de massa que se deixa absorver pelo próprio monstro que julga combater?

Jogo de palavras? Excesso de abstração? Sim. Eis aí aspectos que podem ser criticados na obra de Baudrillard. Ele não leva em consideração os diferentes grupos culturais. Isso até pode ser verdadeiro, mas o que se sente mais fortemente nesse nosso tempo é que a cultura hoje é a do consumo, não obstante os diferentes produtos consumidos. Mudam as premissas, mas a lógica permanece a mesma, seja em relação aos mandarins dominantes, seja em relação aos culturalmente periféricos. Estes últimos se inserem marginalmente e por aí criam suas próprias inserções, que também são produtos culturais, tanto quanto os pertinentes à esfera tida como alta ou elevada. Por variados que sejam os grupos, eles se igualam pelas diferenças e se assimilam pelo consumo.

Pessimismo? Sem dúvida. Porque as possibilidades de mudança e resistência que existem já se encontram inseridas nas estruturas de poder dominantes. Essa resistência passiva nasce de uma consciência de ter consciência, e chega bem perto da mística de um encantamento. Afastar-se da passividade conformista requer modos criativos de ser. O diagnóstico de nosso tempo não é animador, porque para sobreviver ao mal é necessário deixar-se contagiar por ele. Lógica vacinal que beira à crítica da desconstrução, que lida com os problemas liquidando as soluções, que apela às metáforas e às analogias, porque é só na ordem da abstração que essas estruturas se tornam visíveis.

Resulta disso a diluição de tudo quanto foi um dia tradicional ou clássico, com a criação de uma monstruosa realidade simulada, que se sobrepõe à realidade física, buscando a emergência contínua de uma sociedade que se caracteriza unicamente pelo que consome, e cujos desejos são norteados pelo mercado e pela publicidade, pela mídia e pelo poder. Gente que não pensa, e que se assimila, a si própria, a um mero produto de mercado.

Eis as imensas riquezas deste mundo que, paradoxalmente, nos empobrecem tanto. Resisto graças aos meus livros, meus amores. Penso que é na subversão de nossa ínfima individualidade que se reinventa o cotidiano, na absoluta minoria da primeira pessoa do singular, ainda que minimamente, e ainda que escrevendo apenas para você, que não precisa de avatar e que, com toda certeza, não é nenhum zumbi.  

Faz de conta que é feriado


 

Se o "super" abre, e se a gente pode ir lá para comprar Coca Zero, então, não é pra valer. 

É feriado só de faz de conta. 

Fui.

3 de junho de 2023

Luxo

Um sábado in-tei-ri-nhoooo só para mim, para ler o que eu quiser, na hora que eu quiser, e comer só bobagens e tomar muito café e coca zero também. Um sábado inteirinho... Definitivamente tempo é um luxo.

 


1 de maio de 2023

Irrelevâncias

 

Olhares atentos.

Atentamente.

Boca fechada.

Observação.

Luz quebrada nos ângulos.

Bem assim.

 

 




29 de abril de 2023

Onde Estão as Violetas

Onde estão as violetas?
Na mão de etéreos meninos
Que enterram flores na areia,
Na areia consecutiva.

Túmulos de beija-flores
São essas vagas colinas
Sem consistência nenhuma
Sob as mãos inconsistentes
Que vão plantando violetas,
Violetas consecutivas.

Mudam de cor as violetas,
Vão sendo róseas e brancas,
E irão desaparecendo
Por ilusórios caminhos
Como, sem rosto, os meninos,
Meninos consecutivos.

Em tempos consecutivos
Quem pode ver esse mundo
Só de meninos, areias,
Túmulos de beija-flores
E sombras de violetas?

Cecília Meireles
In Palavras e Pétalas

10 de abril de 2023

27 de março de 2023

5 de março de 2023

Hakin Bey, um pouco mais

Quem anda por aqui já se encontrou com Hakin Bey, citado há algum tempo neste texto:

L’émergence du capitalisme produit un étrange effet sur l’amour romanesque. Je ne puis mieux l’exprimer qu’avec une image absurde: c’est comme si l’Etre Aimé était devenu le produit parfait, toujours désiré, toujours payé mais jamais vraiment consommé. L’auto-négation de l’amour romanesque s’harmonise parfaitement avec l’auto-négation du capitalisme. Loin de se contenter de moralité ou de chasteté, le capital exige la pénurie, pénurie de la production et du plaisir érotique. La religion, en interdisant la sexualité, a conféré une aura de prestige à l’abstinence. Le capitalisme occulte la sexualité et l’infuse de désespoir. L' Amour-obsession . Hakim Bey

Particularmente, achei muito provocante falar do amor nesse contexto. Numa tradução livre, ele nos diz que a emergência do capitalismo produz um estranho efeito sobre o amor romanesco. Só posso me exprimir, diz ele, com uma imagem absurda: como se o Ser Amado houvesse se tornado um produto perfeito, sempre desejado, sempre pago, mas jamais verdadeiramente consumido. A autonegação do amor romanesco se harmoniza perfeitamente bem com a autonegação do capitalismo. Longe de se contentar com a moralidade ou com a castidade, o capital exige a penúria, penúria da produção e do prazer erótico. A religião, proibindo a sexualidade, confere uma aura de prestigio à abstinência. O capitalismo oculta a sexualidade e a impregna de desespero. Então, não parece que precisamos mesmo repensar a maneira como entendemos o amor, buscando formas alternativas de expressão emocional que resistam às pressões da sociedade? De notar que ele fala em amor romanesco: expressão que tem pejorativo em relação ao amor romântico. Na primeira forma, corrompida, terminaria na autonegação implicada na busca do que é inatingível e idealizado. O amor romântico, por sua vez, permitiria a intimidade emocional, igualdade e liberdade entre os parceiros.

Mas de quem estamos falando mesmo? De Hakim Bey, pseudônimo de Peter Lamborn Wilson, um escritor, ensaísta e poeta americano que nasceu em 1945. Os temas de que se ocupa: anarquismo, teoria política e cultura marginal. Em 1990, destacou-se com o livro "Taz: Zona Autônoma Temporária", obra muito conhecida, que propõe a criação de espaços temporários de liberdade e autonomia fora do controle do Estado e do capitalismo. Vamos experimentar:

Of course, the Temporary Autonomous Zone appears not just as an historical moment, but also a psychospiritual state or even existential condition. Humans seem to need the "peak experience" of autonomy shared by cohesive groups - "free freedom" as Rimbaud says - not only in imagination, but in real space I time, in order to give value and meaning to the social. Now that we live in a world where (in the words of Lady Margaret Baroness Thatcher) "There is no such thing as 'society'," the TAZ seems more relevant than ever. Things may look different in other faraway lands, but from the point of view of the Beast's Belly it sometimes appears that the TAZ is the last and only means of creating an Outside or true space of resistance to the totality. BEY, Hakin. T. A. Z. The Temporary Autonomous Zone, Ontological Anarchy, Poetic Terrorism. New York: Automedia, 2003, p. X.

Em tradução livre, ele diz que é claro que a Zona Autónoma Temporária aparece não apenas como um momento histórico, mas também um estado psico espiritual ou mesmo como condição existencial. Os seres humanos parecem precisar de uma experiência de pico em termos de autonomia compartilhada por grupos coesos - "livre liberdade" como diz Rimbaud — não apenas na imaginação, mas no espaço real do eu no tempo, para conferir valor e significado ao social. Agora que vivemos em um mundo onde (nas palavras de Lady Margaret Baroness Thatcher) "Não existe essa coisa de 'sociedade', o TAZ parece mais relevante do que nunca. As coisas podem parecer diferente em terras distantes, mas, do ponto de vista da barriga da Besta, às vezes parece que a TAZ é o última e único meio de criar um outside, um espaço exterior, ou verdadeiro espaço de resistência à totalidade. 

Bey também é conhecido por cunhar o termo "ontologia do caos", que se refere à filosofia de que a realidade é sempre fluida e em constante mudança. Bey também é um defensor da teoria da "pirataria", que envolve a subversão da propriedade intelectual e da cultura mainstream, pregando o livre compartilhamento de informações e a criação de obras artísticas que desafiam as normas culturais dominantes. É também poeta e defensor das tradições espirituais do Oriente, principalmente o sufismo.

Enfim, me agrada a ideia de uma Zona Autônoma ainda que Temporária, com liberdade total para amar e para pensar, verbos nem sempre fáceis de conjugar, ao menos na prática.

Fatalidades

 


Mas é domingo outra vez? Tão rápido. E amanhã já é segunda? Enfim, fatalidades

16 de fevereiro de 2023

Mais nada

 Uma cor, quem sabe? O tempo. A vida. O hoje se passando nas horas. A música tomando conta de tudo como se fora infiltração. Cadências, compassos, notas e perfumes. Quase sexta. Respiro. O ato de existir. Mais nada.

2 de fevereiro de 2023

Quem sabe?


Andanças em tempos idos, quando eu ia por aí fotografando tudo o que via. Gostava de explorar o velário da Igreja do Rosário. Detinha-me ora nas luzes, ora nas velas, ora no estrago que a fuligem causava no entorno. Lugar triste, tenso, a ponto de curvar desejos, quem sabe? — ou alterar destinos talvez. Mistério.

27 de janeiro de 2023

2023

 Bobagem contar, mas blogs são essencialmente temporais. Portanto, eis um post para marcar a data, até porque janeiro já vai longe e os boletos de fevereiro estão aí.