20 de abril de 2020

Cenário

Furtivamente.
Porque me lisonjeia esse olhar meramente curioso que pode, no entanto, reconhecer o cenário, e as flores, vasos, janelas e cortinas.
Componentes de uma espera, enfim.
De bom que toda espera deva ser o que palavra diz: esperançosa.
Ou é desespero, de quem desespera.

15 de abril de 2020

Essas coisas


Então, a gente olha para baixo, e enxerga uma coisa que pode ser um ovo ou um cogumelo. Daí inventa de parar e fotografar, enquanto pensa em como a vida pode ser maravilhosamente banal.
Absolutamente gratuita.

11 de abril de 2020

Essa história das cores frias

Então, acho que tudo a ver.
As cores frias são silenciosas, mesmo quando abrigam formas torturadas. Até os amarelos, de uma quentura morna e comedida, recuam diante dos cinzas e dos gélidos azuis.
O resultado de tudo isso foi a destruição do jardim. As flores acabaram por desaparecer, sufocadas pelas camadas de cor mal aplicadas. O produto, contudo, agradou-me. 
Gostei de olhar para o caos do cartão.
Agradou-me a vista e devo guardar o original por algum tempo: até que ele suma como marcador esquecido dentre as páginas de um dos meus livros.

10 de abril de 2020

O disco voador

Eu sei perfeitamente bem que o meu disco voador aí não passa de um reflexo. Eu sei, sim.
Mas precisava você estragar tudo com essa sua lógica implacável aplicada à minha foto? 
Por que não poderia ser um disco voador, não por acaso bem aqui por perto, certamente em busca de alguém para abduzir?
O problema da lógica implacável é que ela obstrui os canais da imaginação. Por conta disso, creio que as abduções estão ficando cada vez mais raras e fora de moda.
Bom, na verdade, para mim tanto faz. Porque, com certeza, não me enquadro no tipo "abdutível", simplesmente porque sei que imaginação é apenas imaginação. Mas, olhando bem, não parece mesmo um disco voador de verdade? 

3 de abril de 2020

A manada copy and past

Confinamento pior é justamente aquele que te sequestra a liberdade interior: 
a liberdade de sentir e de pensar a partir da própria subjetividade.
Nem falo do dizer, porque já não digo nada: vai que alguém entende! 
Falo de um sentir e de um pensar próprios mesmo, frequentemente sequestrados pela contrainformação. Confinamento de corpos com mentes obedientes. O rebanho pacificado tem medo de morrer.
Nem percebe que morto já está quem se aliena de si: sente os sentires e pensa os pensares alheios. 
Nada cria. 
Só absorve e reproduz.
É a manada copy and past.